O Mito da Descida da Deusa


Dea, nossa Dama e Deusa, soluciona todos os mistérios, até mesmo o mistério da Morte. Assim sendo, ela partiu rumo ao Submundo em sua nau, pelo Sagrado Rio da descida. A seguir ela se deparou com o primeiro dos sete portais do Submundo. E seu Guardião a desafiou, exigindo uma de suas vestes para que passasse, pois nada pode ser dado sem que algo seja oferecido em troca. 

E a cada um dos portais, a Deusa teve de pagar o preço da passagem, pois os Guardiães assim lhe diziam: 
"Despe-te de tuas vestes, e livra-te de tuas jóias, pois não há nada que possas trazer a nossos domínios." 

Assim, Dea cedeu suas jóias e sua vestimenta aos Guardiães, e foi conduzida, como um ser vivo que busca ingresso no Reino dos Mortos e dos Poderosos. 

No primeiro portal ela deixou seu cetro, no segundo sua coroa, no terceiro seu colar, no quarto seu anel, no quinto sua guirlanda, no sexto suas sandálias, e no sétimo seu vestido. Dea permaneceu nua e foi apresentada perante Dis, e tal era sua beleza que ele próprio se ajoelhou quando ela entrou.

Depondo sua espada e sua coroa aos pés dela, disse: 
"Abençoados são teus pés, pois te trouxeram por esta senda." 

Ele então ergueu-se e disse a Dea: 
"Fica comigo, eu imploro, e deixa teu coração ser por mim tocado." 

E Dea respondeu a Dis: 
"Mas eu não te amo, pois por que fazes com que todas as coisas que amo e com as quais me delicio venham a fenecer e morrer?" 

"Minha Senhora", respondeu Dis, "é contra a idade e o destino que falas. Não tenho poder, pois a idade faz com que tudo pereça, mas quando os homens morrem ao fim de seu tempo eu lhes dou repouso, paz e força. Por algum tempo eles habitam com a Lua, e com os espíritos da Lua; então podem retornar ao reino dos vivos. Mas és tão adorável e te peço para que não retornes, mas que vivas cá comigo". 

Ao que Ela respondeu: 
"Não, pois não te amo." 

Então Dis disse: 
"Se te recusas a me abraçar, deves prostrar-te perante o açoite das Morte."

Respondeu a Deusa:
 "Se assim é, assim seja, tanto melhor!" 

Dea então ajoelhou-se em submissão perante a mão da Morte, e esta açoitou-a tão levemente que ela gritou: 
"Reconheço tua dor, a dor do amor." 

Dis ergueu-a e disse: 
"És abençoada, minha Rainha e minha Dama." 

A seguir ele lhe deu cinco beijos de iniciação, dizendo: 
"Somente assim podes ambicionar sabedoria e prazer." 

E ele ensinou-lhe todos os seus mistérios, e lhe deu o colar que é o círculo do renascimento. E Ela lhe transmitiu todos os seus mistérios, do cálice sagrado que é o caldeirão do renascimento. Eles se amaram e se uniram um ao outro, e por um período Dea viveu nos domínios de Dis. 

Pois três são os mistérios na vida de um Homem: 
Sexo, Nascimento e Morte (e o amor controla a todos). 
Para atingir o Amor, devemos encontrar, reconhecer, lembrar e amá-los novamente.

Mas para que possamos renascer devemos morrer e ser preparados para um novo corpo. E para morrer devemos nascer, mas sem amor não podemos nascer entre os nossos semelhantes. 

Mas nossa Deusa tende a favorecer o amor, o prazer e a alegria. Ela protege e cuida de suas crianças ocultas nesta vida e na próxima. 

Na Morte Ela revela o caminho que leva à comunhão com Ela, e na vida ensina a magia dos mistérios do Círculo (existente entre os mundos dos homens e dos Deuses). 

Fonte: Tradição Aridiana (Raven Grimassi)